Mulheres e Costumes do Brasil

— Senhores, disse-lhes eu, permitam-me uma simples observação. O meu amigo declarou-lhes que a sua companheira não é uma escrava. Confirmo, com a minha palavra, o que assegura o meu amigo, se for necessário.

— Seja, replicou Valcoreal. Mas é uma negra, e seríamos uns depravados, se a aceitássemos no nosso meio.

Decidi-me então a atacar francamente a questão sem pensar no que pudesse advir.

— Vossas senhorias têm uma certa quantidade de sangue azul nas veias, é incontestável, enquanto Manuela do Bom Jesus não tem uma só gota. Meu amigo e eu, porém, somos brancos puros, sem nenhuma mistura, do que não poderão discordar. Há, por conseguinte, a mesma distância entre os senhores e nós que entre os senhores e Manuela. Ora, já que nós, brancos da Europa, não hesitamos em aceitar mulatos como convivas, penso que esses mesmos mulatos, por sua vez, poderão bem, sem se rebaixar, consentir que uma negra se sente ao seu lado.

Meu argumento não teria réplica na Europa. Mas no Brasil o resultado foi inteiramente diverso.

— O senhor insulta-nos! gritou Valcoreal.

Santa Maria postou-se entre mim e o seu camarada.

— Se o senhor não ignorasse os nossos hábitos e costumes, declarou, saberia que não somos mulatos.

Esta ousadia fez-me emudecer.