- Temos a honra de ser capitães-do-mato. Por conseguinte, não podemos ser mulatos, vociferou, por sua vez, Valcoreal, com insolente arrogância.
Esse protesto dos capitães, por mais estranho que pareça ao leitor, tinha sua razão de ser em uma ficção legal, que desmente formalmente a fisiologia.
No Brasil são as funções que determinam a cor da pele. Pelo fato de conceder o Estado um emprego a um indivíduo, fica este semelhante a um branco, seja qual for a cor da sua pele.
É sob a guarda desta ficção que os salões dos altos funcionários abrem as suas portas a um mestiço pertencente a qualquer das diversas administrações. Será necessario repetir? A condescendência do mundo oficial não é imitada pelas demais classes da sociedade. Para esta, um mulato, seja ou não milionário e carregado de condecorações, não tem, por isso, menos sangue de negro nas veias.
Aliás, já o constatamos, um ministro que tolera que sua mulher dance com um senador mestiço, não o aceitaria, no entanto, para genro.
Henri Koster cita, a esse respeito, uma anedota bem característica.
Um europeu perguntava a um homem de cor se o novo capitão-mor era mulato.
— Foi mulato, mas já não o é, respondeu. Um capitão-mor é sempre branco de puro sangue.
Era um mestiço que assim se referia a um outro mestiço, convém não esquecer.