Mulheres e Costumes do Brasil

caprichosas ondulações do oceano. Outras vezes, corta a água de lado, a cabeça servindo de proa, o braço colado ao corpo. Depois, escora a onda com a cabeça. Suspenso pela vaga até o alto, desaparece de repente, por alguns segundos, no vale profundo que a própria onda cavou. O índio emprega nesses exercícios náuticos uma graça e um vigor que atraem a admiração. Um deus marinho não estaria tão à vontade no meio do lago.

Colocado no meio dessas belezas primitivas e dessa graça selvagem, o leitor compreenderá melhor a narrativa do Grão-Taru, cuja palavra se fez enfim ouvir, por efeito da cachaça, como nos havia prometido o Sr. Evangelista. É um quadro colorido da existência aventurosa dos botocudos e uma pintura fiel das suas superstições. Transmito ao leitor essa lenda, com as reflexões que ela inspira, sem esperar, no entanto, reproduzir as passagens ingênuas e as imagens poéticas com que o velho pajé ornava o seu relato.

O lago, que se desdobrava à nossa frente, comunicava antigamente com o oceano e tinha as águas salgadas. Possuía então uma ilha risonha e perfumada, que servia para encontros de prazer, depois das fadigas da guerra e da caça, às diferentes tribos de botocudos, que desde o São Mateus erravam pela costa oriental.

Hoje essa ilha não existe mais. Juntou-se à margem, formando um prolongamento de terra coberto de plantas e de flores, que entra pelo lago.