— Minha filha, disse ele, acredita-me. Em lugar de te entregares assim ao desespero, pede ao Criador dos seres que venha em teu socorro. Não ignoras que na minha juventude fiquei, por cinco invernos, prisioneiro dos guaicunis. Longe de me abandonar covardemente ao destino, tive confiança em Taru, e Taru salvou-me. Foi ele, o deus terrível mas justo, quem facilitou a minha fuga através da mata, e me trouxe novamente são e salvo a uma tribo de botocudos.
E como a virgem não cessasse de chorar, o pajé continuou:
— Escuta, filha, o apologo que guardei durante o meu cativeiro:
"Um cavaleiro guaicuru, atravessando o sertão, sentiu-se chamar por uma voz suplicante. Voltou-se para o lado donde ela partira e avistou uma cascavel, que se retorcia no centro de um círculo de fogo.
— Pelo amor de Deus, tira-me daqui e salva-me a vida, implorou o réptil.
O cavaleiro deixou-se emocionar, estendeu sua comprida lança, a cujo extremo a cascavel se enroscou, e trouxe-a até junto a si. Como o fogo tivesse queimado a serpente em vários pontos, o moço friccionou-lhe as feridas com graxa de nandu e curou-as. A cascavel envolve então o corpo de seu salvador e enrosca-se no seu pescoço. O cavaleiro pensa que são demonstrações de reconhecimento, e logo fica desiludido, sentindo-se enforcar pelo flexível animal.