— Que fazes? Solta-me, solta-me! Tu me enforcas, murmurou com voz abafada.
— Quero mesmo enforcar-te, respondeu a cascavel.
E os seus anéis apertaram-no com mais força.
— Desgraçada! Então é esta a recompensa do serviço que te prestei, salvando-te a vida? balbuciou ainda o cavaleiro.
Como se estas queixas a tivessem comovido, a serpente interrompeu a tortura.
— Escuta, disse ela. Acusas-me injustamente de ingratidão. Sofres neste momento a lei comum. A lei manda pagar o bem com o mal.
— Cala-te, blasfema! respondeu o cavaleiro.
— Donde vens então, visto como a enunciação de um fato tão simples excita o teu rancor?
— A lei é pagar o mal com o bem, e ofendes a Deus, sustentando, ao contrário, ter ele dito pagar o bem com o mal.
— Como faço questão de te convencer e de não passar por ingrata aos teus olhos, e ainda menos por ignorante, dou-te uma hora de trégua. Uma hora chega-me para te fornecer a tríplice prova de que necessitas.
O pescoço do guaicuru ficou livre.
O cavalo, sedento, farejava a fonte de um atalho próximo, aonde se dirigiu e se pôs a beber. A água da fonte lamentava-se.
— Que tens? perguntou o viajante.