Mulheres e Costumes do Brasil

— Que fazes? Solta-me, solta-me! Tu me enforcas, murmurou com voz abafada.

— Quero mesmo enforcar-te, respondeu a cascavel.

E os seus anéis apertaram-no com mais força.

— Desgraçada! Então é esta a recompensa do serviço que te prestei, salvando-te a vida? balbuciou ainda o cavaleiro.

Como se estas queixas a tivessem comovido, a serpente interrompeu a tortura.

— Escuta, disse ela. Acusas-me injustamente de ingratidão. Sofres neste momento a lei comum. A lei manda pagar o bem com o mal.

— Cala-te, blasfema! respondeu o cavaleiro.

— Donde vens então, visto como a enunciação de um fato tão simples excita o teu rancor?

— A lei é pagar o mal com o bem, e ofendes a Deus, sustentando, ao contrário, ter ele dito pagar o bem com o mal.

— Como faço questão de te convencer e de não passar por ingrata aos teus olhos, e ainda menos por ignorante, dou-te uma hora de trégua. Uma hora chega-me para te fornecer a tríplice prova de que necessitas.

O pescoço do guaicuru ficou livre.

O cavalo, sedento, farejava a fonte de um atalho próximo, aonde se dirigiu e se pôs a beber. A água da fonte lamentava-se.

— Que tens? perguntou o viajante.