— Estou indignada com a ingratidão humana, respondeu a fonte. Ofereço generosamente a minha água límpida aos homens e aos animais, e em lugar de me agradecerem, atiram-se ao meu leito e perturbam a pureza da água. Como recompensa de meus serviços, torno-me toda em lama.
— Primeira prova, observou a cascavel.
— São os animais os culpados e não os homens, replicou o cavaleiro.
Descendo a margem do rio Cuiabá, eles ouviram gemidos. Donde vinham? Era um belo coqueiro, cujo tronco estava dividido por um longo e profundo corte.
— Que te aconteceu? perguntou novamente o guaicuru.
— Oh! Deus não é justo, disse o coqueiro. Permitiu que os homens, aos quais não faço senão o bem, me maltratassem desta forma. Minhas folhas lhe dão sombra e lhe oferecem uma goma preciosa; meus frutos matam a sua fome e saciam a sua sede. Em paga da minha bondade, o homem fere a minha carne com o seu punhal, e faz escorrer o meu sangue, que lhe serve de bebida. Examina o ferimento profundo que ele me fez e dize-me depois se não tenho o direito de acusar o destino.
— Desta vez é mesmo o homem o culpado, ruminou a cascavel. Mas continuemos o nosso caminho.
Atravessaram então um bosque espesso. Ao pé de uma árvore, perceberam um macaco a soluçar, segurando o braço, do qual pendia um saco de fibra.