— Viajantes! gritou o macaco, implorando. Socorrei-me. Vedes em mim uma vítima do meu bom coração.
— De que te lastimas? perguntou o cavaleiro.
— Queixo-me por ver que a terra pertence aos maus. Ouvi a minha história e tereis pena de mim. Um jaguar fora ferido por caçadores. Com o flanco atravessado por uma flecha, ia expirar, quando passei, por acaso, a seu lado. Não podendo mais falar, fez-me sinal que o socorresse. Apesar da minha aversão bem natural pelos animais da sua espécie, aproximei-me e arranquei-lhe a flecha. Imediatamente o jaguar se sente reanimar e me agradece com fortes protestos de devotamento.
— Agora, se eu pudesse comer, recobraria as forças, ajuntou ele.
Corro à fazenda vizinha, torço o pescoço de duas galinhas e trago-as ao enfermo. Este volta à vida e prodigaliza novas mostras de amizade.
— Doravante, declarou ele, teus semelhantes serão sagrados para os jaguares, como lembrança do serviço que me prestaste. Levarias ao auge a tua bondade, se me arranjasses um pote de leite. Sinto que um pouco de leite acabaria de acalmar o ardor que o contato do ferro deixou nas minhas entranhas.
Apressado em satisfazer esse desejo, corro de novo à fazenda. Aperto a teta de uma vaca, que amamentava o filhote, e volto ao jaguar com uma cabaça a transbordar de leite. A fera começa por lavar o ferimento