— Aqui estou, disse uma voz doce.
Macaé estremeceu. Virou-se, e percebendo a filha do chefe estendeu-lhe os braços. A virgem, escondendo o rosto no seio do amante, perdoou-o.
A alegria substituiu a mágoa e o ódio desapareceu do coração dos guerreiros. O festim recomeça. Os jogos sucedem-se aos jogos. Afinal o chefe dos pajés dá o sinal dos cânticos.
Enquanto os botocudos escutam a melopéia plangente do adivinho, os dois amantes, sentados perto de uma palmeira, trocam confidências.
— Então, achas-me hoje menos linda que ontem? pergunta Miranha. E esquecer-me-ás ainda para atender ao chamado da mãe-d'água?
— És sempre a mesma para mim. Por mais poderosa que seja a tua rival, desafio-a, dora em diante, a arrancar-me daqui e apagar do meu coração a tua imagem.
— Ó meu bem-amado! Que doce existência nos está reservada! Tu, exímio caçador, abaterás o quati, o veado e o tamanduá. Eu seguir-te-ei em tuas expedições, levando a rede trançada com os fios da embira, que encerra os utensílios do nosso lar. Quando tivermos filhos, carrega-los-ei às costas, e ambos lhes ensinaremos a adoração de Taru. Nossa vida será então uma longa sequência de dias felizes.
— Como a tua voz é caridosa, murmurou Macaé. E como ela sabe seguir pelo caminho da minh'alma!
— É porque te amo, meu belo guerreiro, disse a índia com ternura.