A Sra. Anastácia é pequenina. Beleza altiva e desdenhosa ao mesmo tempo, que não a priva de certa graça indolente, particular às crioulas.
Felipa, sua filha, é uma moça de uns dezoito anos, gordinha, de olhos vivos e curiosos, discreta sem ser úmida, e que conhece com grande habilidade as manobras do leque.
Cito agora o provérbio português ao qual fiz alusão:
"Uma mulher já é bastante instruída, quando lê correntemente as suas orações e sabe escrever a receita da goiabada. Mais do que isso seria um perigo para o lar".
Desse provérbio nasceu um hábito odioso, conscienciosamente praticado em Portugal e introduzido por Cabral e seus companheiros no Brasil, hábito esse que dominou por três séculos.
A desconfiança, a inveja e a opressão resultantes prejudicavam todos os direitos e toda a graça da mulher, que não era, para dizer a verdade, senão a maior escrava do seu lar. Os bordados, os doces, a conversa com as negras, o cafuné, o manejo do chicote, e aos domingos uma visita à igreja, eram todas as distrações que o despotismo paternal e a política conjugal permitiam às moças e às inquietas esposas.
Francamente, a solicitude dos senhores era exageradamente tenebrosa e previdente. Havia mesmo entre eles quem se gabasse de degradar sistematicamente