— Muito bem. Os tolos preconceitos que existem aqui não conseguiram desviar tua razão nem falsificar teu julgamento. Verás então a Manuela e saberás dizer-me se algum dia beleza mais severa e mais grandiosa surgiu diante dos teus olhos.

E pôs-se a declamar estes versos portugueses: "Seus cabelos negros fazem-nos perder geralmente a ideia de que os cabelos louros possam ainda ser belos. Ela tem a cor morena do amor. Seus traços são tão suaves que a neve quereria mudar de cor, para imitá-la".

Meus ouvidos já haviam escutado essa harmonia, porque as rimas citadas por Fruchot eram das mais emocionantes e mais poéticas deixadas por Camões (1).

Ele continuou:

— Endechas do Homero português. Eu acrescento que os seus cantos nunca foram tão doces, nem mesmo quando ele celebrava Catarina de Ataíde, causa inocente de todos os seus males.

Em vão procurava lembrar-me do nome da mulher que com tanta felicidade inspirara o poeta.

— Tu a verás, digo-te eu. E avistando-a, todas as estâncias de Camões virão à tua memória; porque todas podem ser aplicadas àquela que amo. Dir-se-ia que o poeta soldado a conhecera há 300 anos, tal semelhança tem o seu retrato.

Chegávamos então em frente aos Correios. Entramos. Aproveitarei a ocasião para dedicar algumas linhas a este estabelecimento.