Já cedo pela manhã de 5 de abril, via-se em todas as esquinas grupos numerosos a confabular misteriosamente; murmurava-se, falava-se, discutia-se e gritava-se. Enquanto uns apenas ousavam expressar, em voz baixa, as suas opiniões sobre o presente estado de cousas, outros bradaram, com arrogante insolência: "Fora estes filhos do Reino, fora a cachorrada!" (sic). Nisto compreendiam ao próprio imperador. Os soldados da polícia esgueiravam-se medrosos pelas ruas, quando soava um destes brados; ninguém ousava pôr o açamo à plebe desenfreada. Estes bandos tinham-se armado de cacetes, facas e pistolas; a covardia inata parecia momentaneamente desaparecida, pois já não havia mais tropas estrangeiras que temer. O tumulto perdurou o dia inteiro, e quando, finalmente, a noite baixou com as suas negras asas sobre a capital, choveram as pedradas contra as janelas dos portugueses ricos, os vidros quebrados caíam tinindo sobre o calçamento e as balas das pistolas sibilavam pelas biqueiras dos telhados.
Só tarde da noite foi amainando a tenebrosa agitação, para recomeçar na manhã de 6. Mal avermelharam o horizonte os raios do sol, agruparam-se novamente os amotinados e, agora, afoitados com as cenas do dia anterior, gritavam sem rebuços: "Em baixo o Ministério!", e algumas vozes, meio abafadas, acrescentavam: "Em baixo o imperador !"