História das guerras e revoluções do Brasil, de 1825 a 1835

Interrupções semelhantes turvavam, frequentemente, a aparente alegria geral e boa disposição do povo; eram os entreatos do grande drama. Mas, Lima, o esperto Lima, sabia desfazer prontamente a má impressão causada por estes incidentes. Promoveram-se paradas, a que comparecia a totalidade da guarda nacional recentemente criada, procissões, bailes, representações teatrais e toda a sorte de festas, por ocasião das quais o pequeno imperador era exposto ao povo como uma linda boneca. Tendo à esquerda o tutor e à direita o regente, a criança sobrecarregada de cruzes e de brilhantes, marchava entre os dois inimigos jurados — José Bonifácio, com fisionomia amável e carinhosa, curvando-se constantemente para ele, falando-lhe; Lima, olhando por cima da multidão, com aspecto altaneiro e arrogante, e exagerada fidúcia. Havia sempre juntos muitos milhares de negros e de mulatos que faziam soar, em coro desarmônico os seus "Viva D. Pedro Segundo!" hinos enchiam o ar com o incenso do catolicismo, ao compasso das girandolas de foguetes e das bombas.

Mas, a gente distinta da cidade raramente comparecia a estes pomposos cortejos, de certo, por temer a ágil quirologia e as bem afiadas facas destes bastardos. Mal se poderia acreditar que semelhante excessos pudessem ocorrer, em pleno dia, numa cidade assim populosa; entretanto eram e, em parte, ainda hoje são cousa assaz vulgar.