História das guerras e revoluções do Brasil, de 1825 a 1835

Recordo-me de um exemplo daquele período de terror, que é bastante singular para merecer ser aqui referido.

Um negro que, para castigo de graves crimes, segundo as leis europeias, havia muito devia estar pendendo duma forca, teve ensejo de fugir da prisão, graças às péssimas condições de segurança da mesma e à negligência das autoridades. Já anteriormente este negro tinha jurado de morte a todos os brancos, e sabia muito bem ser impossível escapar, no centro da capital, aos soldados de polícia saídos ao seu encalço; animava-o, a ele havia muito votado à morte, apenas o desejo sanguinário de, antes de partir deste mundo, satisfazer ainda uma vez a sua sede de assassino, e levar para o além-túmulo mais alguns companheiros. Armado dum ferro curto e agudo, deitou a correr pela rua mais próxima, desdenhando aos seus irmãos na cor e só procurando brancos. O caprichoso destino fazia subir a mesma rua a uma senhora já idosa; ao avistar o demônio negro adiantar-se tão apressadamente, fugiu para a casaria oposta mas, antes que atingisse a calçada, foi alcançada e ferida.

— "Pega o ladrão! Pega o assassino!" começaram então a gritar de todos os lados; mas o facínora já havia ganho um grande avanço e já sangrava entre as suas mãos malditas uma pobre e inocente criança.