Em fins de 1825 Carlos Seidler despiu a farda de cadete do exército de Brunswick, enfastiado da pátria e da carreira das armas, e deliberou vir tentar a sorte na terra das palmeiras.
Neste intuito dirigiu-se à Hamburgo e, desdenhando cautelosamente as ofertas do citado major von Schaeffer, cuja fisionomia moral deixou retratada com as cores mais negras, tomou passagem por conta própria em uma barca a fazer-se de vela para o Rio de Janeiro.
A travessia, de cento e três dias, nada apresentou de extraordinário, bem como não oferecem novidades às descrições que o recém-chegado se apressou em fazer da cidade imperial e dos seus admiráveis arredores, com variantes mais ou menos fidedignas e pitorescas, tão profusamente enaltecidas por todos os visitantes.
Mas, se a natureza o deslumbrou, as impressões que recebeu dos homens foram menos que lisonjeiras, e ao registrá-las molhou evidentemente a sua pena no fel de incoercível rancor.
A situação das classes armadas, dependentes do favoritismo despejado, causou-lhe intensa indignação; mas, não encontrando melhor meio de vida, ignorante da língua do país e baldo de recursos, resignou-se ao projeto de novamente envergar o uniforme.
Aconselhado por alguns compatriotas, endereçou ao ministro da guerra, João Vieira de Carvalho, uma petição solicitando um posto de oficial subalterno no exército. Decorreram, porém, semanas e semanas sem que surgisse o almejado despacho.
O aperto da conjuntura inspirou ao jovem pretendente uma decisão heroica, de que havia de colher bom fruto: assentou em levar diretamente a D. Pedro I a sua pretensão.