História das guerras e revoluções do Brasil, de 1825 a 1835

- "Ao romper do dia, conta ele, segui para São Cristovão; devia depor a minha petição nas próprias mãos do imperador e queria conhecer pessoalmente o soberano. A manhã era magnífica, a natureza trajava o seu manto festivo e o sol mostrava risonho a sua fisionomia domingueira; álacres esperanças voltavam ao meu peito e em breve cheguei ao palácio imperial.

"Além, no parque, as mangueiras gigantes, estas rainhas da vegetação tropical, erguiam as suas frondes umbrosas; a folhagem dos plátanos murmurava doces saudações e na brisa, que me banhava cantando, flutuavam perfumes.

"A não ser isto, tudo em volta era silêncio e nada revelava a proximidade do autocrata de todos os brasileiros. Por mais de uma hora permaneci atordoado e indeciso, como um mendigo à porta do opulento, apertando a fronte ardente de encontro ao gradil de ferro. Ninguém se apresentava para me anunciar; o palácio parecia deserto.

"Súbito vi um homem de casaco azul, calças brancas, a cabeça protegida por um chapéu de palha, sair do palácio e dirigir-se às cavalariças vizinhas. Passou por bem perto de mim sem parecer notar a minha presença; algum pensamento elevado ocupava o seu espírito e o olhar sombrio perdia-se no horizonte. Era antes baixo do que alto; o seu porte traía o militar e a seriedade austera que lhe moldava o gesto revelava o soberano.

"Tinha as faces ligeiramente crivadas de cicatrizes de varíola; o tronco era desproporcionado aos membros, o peito amplo e abaulado, os braços curtos e os dedos compridos demais; ainda assim, ao primeiro aspecto, não se podia deixar de considerá-lo um bonito homem.

"Cabelos negros e crespo enquadravam-lhe a fronte abobadada e o olhar negro e brilhante denotava consciência