História das guerras e revoluções do Brasil, de 1825 a 1835

do próprio valor, despotismo e felicidade no amor.

"Surpreso, acompanhava ainda com a vista o vulto másculo, quando ouvi passos atrás de mim. Era um lacaio da casa imperial que me informou ser, aquele homem de casaco azul, o próprio imperador. A emergência não podia ser mais propícia: corri para as cavalariças. Ali encontrei S. M. blasfemando e jurando porque não achara um só estribeiro, nem mesmo um negro para servi-lo, e vi o orgulhoso D. Pedro selar o seu cavalo com destreza tal, que bem demonstrava não ser aquela a primeira vez em que se achava em semelhante aperto.

"Aproximei-me ousadamente e, entregando-lhe a petição, comuniquei-lhe, com poucas palavras, em francês, os meus desejos.

"— Attendez un moment; je reviendrai aussitôt", gritou-me ele, saltando sobre o cavalo inglês e disparando a galope. As palavras do imperador soaram aos meus ouvidos como um enigma; entretanto, permaneci imóvel junto ao portão da cavalariça, aguardando o cumprimento da promessa imperial. Depois de um quarto de hora de espera rufaram os tambores da guarda e vi alguém que, da porta do palácio, acenava para que me aproximasse. Reconheci logo o imperador e voei ao seu encontro. Assim que cheguei perto, descalçou a luva da mão direita e deu-ma a beijar. A cerimônia correu felizmente; repeti o meu pedido de uma colocação no exército. D. Pedro examinou rapidamente a minha petição e, depois de fixar sobre mim os seus grandes olhos negros, disse:

"— Allez au ministre de la guerre et soyez sans peur; vous serez employé"; e um breve sorriso encrespou-lhe os lábios, enquanto me restituía a petição.