História das guerras e revoluções do Brasil, de 1825 a 1835

sem mais tempero. Mas, também este recurso lhes foi proibido sob pena de duzentos açoites. Certo dia, um alemão, infringindo a proibição, colheu alguns dos citados frutos na aludida estância, mas foi, infelizmente, surpreendido no ato. Servia ele num dos batalhões brasileiros, cujo comandante não se demorou em lhe mandar aplicar o determinado número de açoites; mas, o desventurado possuiu bastante brio para preferir a morte à infâmia; e quando o seu capitão inspecionava a companhia, meteu uma bala na cabeça. Os brasileiros contemplaram, com pasmada admiração o cadáver do infeliz suicida, mas todos decidiram que era preferível apanhar os duzentos açoites a tomar semelhante resolução.

Cada dia aumentava a miséria; os nossos soldados mataram todos os cães que ainda havia no acampamento e devoraram como acepipe a estes leais companheiros de nossos infortúnios porque, pelo menos, possuíam mais carne e gordura do que bois extenuados, os quais, devido às marchas prolongadas e à fome estavam tão magros que, em vez do tutano, de que dantes nos servíamos para assar, não tinham mais do que sangue nos ossos. Havia muito tempo que não recebíamos o soldo, o qual ali, aliás, não era pago em papel como no Rio de Janeiro, e sim em moeda sonante; de modo que, inclusive todas as gratificações importava em quase o dobro daquele; contudo, de pouco nos poderia ter servido o dinheiro, pois