A organização nacional; Primeira parte – a Constituição

é repetir coisa tão trivial, que faz rir a toda gente, porque todos conhecem esta banalidade, e quase todos têm a pretensão de conhecer os homens. A verdade é que o privilégio de conhecer os homens e de os saber escolher é uma faculdade muitíssimo rara.

Estudando este assunto, no ponto de vista da cultura geral e da utilização da cultura, na formação das correntes de opinião, uma vez verificado que a sociedade dos governantes exerce, entre nós — por herança de tradição e por contingência comum a todos os povos novos — verdadeira supremacia, é inevitável concluir que estimular e desenvolver a cultura e animar sua ação sobre o meio social é dever dos que governam.

Surge, porém, logo aqui uma das dificuldades desta delicada missão. Desde que o governo é, por fatalidade da vida prática, coeficiente do progresso intelectual, é preciso que ele se coloque, em face deste problema, em posição exclusivamente intelectual; que aplique, neste trabalho de animação e de estímulo, um critério inteiramente emancipado de preferências, de inclinações, de parcialidade; que veja nos indivíduos órgãos de ideias e portadores de soluções.

Todos nós, brasileiros, estamos profundamente eivados de tendência para o personalismo; falamos, quase sempre, sob sugestão do temperamento; tendemos a ver, nas obras alheias, o homem, com suas contingências e fraquezas, em lugar das ideias que representa.

A vida pública toma, assim, um travo de parcialidade, que se transforma em espírito de classe, de partido, de corrilho, de elogio mútuo, ou se expande em agressões. Selecionando o meio político