Os tipos dos Mecenas e dos Richelieu não são mais, provavelmente, compatíveis com a nossa época; não é certamente de cortes literárias e academias oficiais que temos hoje necessidade, mas o que é absolutamente preciso é que se acentue, na esfera governamental, o cunho da política.
Somos um país de inteligência superior; temos no Congresso um grupo de homens que se assinalam por notável poder de cerebração e variado saber; mas, em contraste com isto, a marcha do nosso evoluir, em lugar de seguir a orientação superior e segura que devia resultar desta riqueza de espírito, vive na dependência dos acidentes que, de tempos a tempos, nos fazem perguntar a nós mesmos se habitamos um território policiado.
É que a realidade da vida política não depende nem de grandes ideias, nem de belos discursos, nem mesmo, exclusivamente, de leis perfeitas, mas dos métodos e processos ordinários da política e da administração. As grandes peças oratórias ficam nos anais, as leis circulam nas coleções, e a vida real do governo vai obedecendo ao impulso dos pequenos móveis dos atos diários, dos gestos, das palavras, das intenções, que cada depositário do poder vai pondo em ação, em cada minuto, em cada ponto do país...
Um grande escritor português perguntava um dia qual a influência de Machado de Assis no governo e na política do Brasil. Todos sabem que era completamente nula. Quem privou, entretanto, com aquele espírito, privilegiadamente arguto e sutil, não tem dúvida de que, dadas certas emergências, seu conselho sugeriria certamente aos homens de governo soluções para as mais intrincadas