Nestas sociedades, agitadas e confusas, a vida é um campo de batalha, onde a combatividade gravada no caráter humano não tem outra coisa a fazer senão conhecer e exercitar as armas de luta, formar o egoísmo, revestir o espírito e a vontade da armadura de impassibilidade, de indiferença e de ceticismo, necessários para o êxito; aguerrir e apurar a astúcia, a sedução, o poder pessoal de mando, de sugestão, de domínio.
Sendo esta a realidade, que as fórmulas e convenções revestem das aparências do bem público e da utilidade geral, e à qual a evolução vai dando uma progressiva, mas vagarosa, atenuação — progresso que se opera na razão direta da generalização da cultura e na inversa da elevação da cultura acadêmica de um pequeno número — é fora de dúvida que a marcha e a sorte das sociedades resultam dos atos, do temperamento e do caráter dos dirigentes.
Os dirigentes são, sem dúvida; os mais capazes para a sua função; mas a interpretação da capacidade resulta de uma seleção operada por efeito de reações entre elementos diversos dos que compõem a noção abstrata, moralmente superior, da capacidade. O capaz é, aqui, apenas, o vencedor, numa espécie de combate, em que o homem não luta por se, mas luta para se; em que, em vez do pleito leal e nobre, onde cada indivíduo move, paralelamente com outros, as forças de seu valor, concorrendo, por seu êxito, numa liça convergente, de que só pode resultar o máximo de riqueza geral, porque todos produzem o máximo de energia, sem atacar as capacidades alheias, dá-se, ao contrário, o embate entre as forças; e deste conflito