A organização nacional; Primeira parte – a Constituição

Como fontes de fortuna pessoal, as produções de exportação exercem, por outro lado, dentro do país, a influência desastrosa de atrair as ambições, drenando braços e capitais para a monocultura, com abandono das indústrias de consumo e das culturas que, sendo base da nutrição do homem, recompensam o produtor com a modesta mas segura prosperidade, resultante de todas as indústrias estáveis por força de sua necessidade.

Os algarismos do comércio internacional não refletem nem a prosperidade nem a riqueza geral de um país; aí está a história econômica do Brasil e de outros povos, para demonstrar que as grandes propriedades, de onde saem os produtos de exportação, são também centros de avultado número de indivíduos pobres, sem bens e sem trabalho, e onde, por vezes, o fenômeno da miséria apresenta o aspecto de verdadeiras crises epidêmicas, eliminando populações inteiras.

Ninguém pretenderia, em bom senso, que se combatesse ou se desamparasse a lavoura das produções nacionais destinada à exportação. O erro dos nossos governantes tem consistido em não prestar atenção senão a estas culturas, dando-lhes situação privilegiada, e favorecendo-as por meio de medidas artificiais — cujos efeitos se estendem, para além da classe produtora, em resultados contrários à economia e à prosperidade geral — ao mesmo tempo que desprezam as causas verdadeiras de suas crises, quando deixam de prover às necessidades da produção relativas ao crédito, ao transporte, à supressão dos "faux-frais", a eliminação de intermediários inúteis, à defesa permanente do produtor contra o exportador — pela armazenagem do produto