seus costumes, produziu Cartago, o império empreendedor e voraz, onde um núcleo de banqueiros explorava multidões de escravos, exaurindo brutalmente as terras, e dominando, impassível, o estrangeiro.
Portugal, enviando para suas colônias os elementos irrequietos do povo sem cultura e sem piedade, assentou as raízes da nossa história econômica sobre a cobiça da riqueza fácil, na mineração e na devastação das maltas, com a submissão do indígena e a escravização do africano.
Estes hábitos perduram enquanto permanecem as condições sociais que os alimentam.
Quando a independência se fez, as classes intelectuais do país, balançadas entre as tradições políticas da metrópole e o ceticismo frívolo, que foi a interpretação dada pela alta sociedade do tempo à revolução mental do século XVIII, estavam longe de possuir o capital sólido e consciente de ideais, de aspirações e de intuitos, necessários para exercer, sobre essa sociedade de bandeirantes, de grandes proprietários, de colonos ávidos, a ação retificadora de uma disciplina moral de altos sentimentos e severos desígnios.
E foi sobre estes materiais que se edificou e consolidou a ordem do Império, essa ordem paradisíaca, tão saudosa para alguns, em que a nossa terra viveu a paz material das feitorias, sob uma casta de colonos que arrancavam, à custa do sangue e da fibra muscular do negro, a riqueza luxuriante das florestas, para deixar depois, seca e exausta de humus, a crosta da terra exposta à praga do sapé, enquanto, na Corte e em poucas capitais, uma multidão de doutores e bacharéis representava, com tiradas de retórica e erudição,