céu, em vez de trilhar os caminhos seguros e tranquilos da terra.
Desde a primeira impressão de surpresa, em face do problema da existência, nossas almas foram toldadas pela sombra do terror. Em lutas e guerras contínuas, subjugados na corvéia e na gleba, sujeitos ao trabalho forçado, às invasões do inimigo, às espoliações do senhor, habituamo-nos à ideia de que a vida é um labor torturante, para o qual a imaginação dava, por prêmio, o termo final do repouso. A religião pôs esse termo em paragens extraterrenas, mas a avidez do homem trouxe-o para a vida da terra. A ideia do trabalho associou-se à da pena, o descanso tornou-se a meta ambicionada. Só a fortuna podia realizar a felicidade, isto é, a emancipação da luta e do esforço.
Mas cada prazer da fortuna traz comsigo a insaciedade, e, de prazer em prazer, a alma caminha para a decepção irreparável...
É que o homem é, antes de tudo, um animal ativo, um produtor de coisas e de ideias, um procriador de seres e de energias. A necessidade que o impele é de gerar e de produzir; o estímulo que o conduz — o imperativo do movimento; da ação, da novidade, da conquista. O objeto da vida é a produção, não a aquisição; seu fim, a conquista, não o gozo da conquista.
O prazer não é outra coisa senão o brado vitorioso do corpo e da alma ao sentir forças e faculdades aplicadas, espontânea e naturalmente, na obra da geração.
Não avidez do usurário, na atividade do grande especulador, no distraído movimento do homem rico, que viaja incessantemente, ou caminha