A organização nacional; Primeira parte – a Constituição

e os costumes; dispondo das nomeações e dos prestígios, obedecendo insensivelmente aos interesses próprios, aos da classe a que pertencem, aos dos amigos, aos impulsos do partido, da família, da circunscrição, local ou eleitoral, das paixões ou dos interesses, ocasionais ou parciais, favoráveis ao poder e à ambição pessoal, o governante faz afluir, sobre a massa dos variados fenômenos da vida social, uma soma de fatores e coeficientes, que as doutrinas presumem naturais e lógicos, porque os supõem representativos da vontade e dos interesses coletivos, mas, em verdade, de um caráter acentuadamente artificial, visivelmente desviados do leito natural da evolução.

Os tratados dos publicistas, as constituições e leis, as discussões parlamentares e da imprensa, formam e põem em circulação, sobre os fatos e realidades da vida pública, um mundo de preceitos, postulados e convenções, que alimentam e mantêm a vida fictícia das lutas políticas. Sobre um acervo de termos clássicos, eivados de espírito acadêmico, e de prejuízos doutrináros, que a tradição transporta de gerações para gerações, a singular inteligência dos letrados, escravizando a razão às palavras, enquanto se perdem e desmaiam as ideias e os fatos, e fazendo girar a vida intelectual da política em torno dos caracteres gráficos e da forma material das frases e de suas deduções — trabalho de dialética aérea sobre elementos de memorização — funda essa copiosa coleção de falsos princípios e notórios sofismas, com que a política tece, sobre o organismo da sociedade, a roupagem de uma retórica bizantina, ou de uma polêmica farisáica.