surge espontaneamente da sociedade, e atua, por outro lado, com justeza sobre a massa que domina.
A tese inicial deste estudo seria, neste sentido, de uma verdade apenas relativa, de expressão quase insignificante: dada a relação natural entre governantes e governados, tão verdadeiro seria dizer que os governantes constroem as sociedades, como que estas produzem seus governantes; e, em última análise, seriam os próprios governados os construtores, por ação da atividade política: in eligendo. Mas a relação entre governantes e governados, aparentemente natural e legítima, está falsamente colocada.
Historicamente, o governo, a autoridade e o poder surgiram da violência, foram consolidados e mantidos pela violência, subsistem e apóiam-se, ainda hoje, sobre fortes elementos de violência, física ou moral, assim como suas instituições e seus órgãos práticos projetam sobre os costumes uma infinidade de influências, resultantes de seu vício congênito, que se traduzem por atos e processos de violência.
Por efeito dos hábitos e noções a que se ligou a ideia de governo, a função política ficou, teoricamente, uma função sui generis, alheada da vida íntima do povo, e sobreposta, sem ligação, a seus interesses e tendências. Na prática, é quase tão verdade dizer-se que a massa dos cidadãos coopera sempre na política e nos atos de seu governo, como seria dizer que ela participa da invasão de um povo estrangeiro: o povo tem tanta consciência do que fazem os governantes, como tem a responsabilidade dos acidentes que o surpreendem. A violência — em sua forma