A organização nacional; Primeira parte – a Constituição

nova era mítica, logolátrica e sombria, prejudicando exatamente a oportunidade, que se lhe está mostrando, de iniciar a solução de seus problemas, sob critério experimental e racional, para recair, depois de desiludida desse ressurgir de fé, em suas velhas ou novas divindades, e de outro período de penosas agitações, numa amarga realidade, recomeçando, então, o trabalho construtor abandonado.

Será um caso idêntico ao da nossa abolição, sem organização do trabalho, sem assistência ao preto e sem cuidado por sua educação; da nossa Independência, sem organização da nacionalidade; e da nossa República, sem verdade representativa e sem educação popular.

A nossa situação será sempre, neste caso, a de um povo julgado inferior, e em real estado de inferioridade, submetido — com toda a ilusória confiança em nossos ideais místicos — à subalternidade, à submissão, ao sacrifício, à eliminação. Com a bandeira da Moral, ou sob as leis da economia, as seleções humanas operar-se-ão sempre, apesar de todas as boas intenções; e, uma vez encerrado o período dos apostolados, a grei da nova religiosidade restaurará suas forças, adaptando-se às contingências correntes da vida; e irá fazendo seu culto público e privado, ao lado de instituições semelhantes à inquisição, à escravidão, à tirania, à guerra aos infiéis... Por esta forma, ou pela de um acordo jurídico, fundado em combinações diplomáticas, sem garantias sociais e sem organização apropriada à solução dos problemas humanos, a nossa situação real será sempre precária. Nosso espírito caracteriza-se por uma ingenuidade, que nos expõe a todos os riscos