que ele simula, raras vezes efetiva — e jamais o foi, entre nós — não traduz senão embates de ambições, de paixões e de caprichos. Sob sua ostentosa encenação, e por entre os espetáculos ruidosos de seus debates, o que vive, realmente, é a competência dos espíritos e das cobiças, no que têm de mais superficial e mais nocivo; a vaidade dos torneios parlamentares — perfeitas justas de cavaleiros intelectuais, iguais aos encontros de senhores feudais — as tricas da cabala, da sugestão e da influência. O parlamentarismo é a antítese da organização, e do governo consciente e forte; é o regime da dispersão, da vacilação, da crise permanente. Ora, se há uma verdade a se impor a quantos cuidam dos problemas políticos contemporâneos, é a de que a fase que atravessamos exige a investidura, nas funções do governo, de capacidades muito conscientes, muito seguras, muito livres e muito fortes.
No Brasil, o parlamentarismo, longe de reproduzir a realidade de sua essência, foi um regime de ditadura moderada e frouxa, nas mãos de um monarca de espírito abstrato e vontade indecisa. Este país novo, que reclamava a direção de uma possante cabeça organizadora, atravessou o período mais calmo de sua existência sob o governo de um chefe, com as virtudes de S. Luiz e a inteligência de Luiz XIV, talvez, mas que nos deu tudo quanto quisemos, menos um regime parlamentar. Floresceram, nessa forma de governo, com intenso viço, suas feições aparentes e superficiais: abuso da discussão e excesso da exibição oratória; fervilhar de intrigas e manejos de politiquice, no empenho de conquistar o único árbitro das posições: o Imperador. A