o palacete construído para a Marquesa de Santos, na rua do Imperador, a atual Avenida Pedro II, foi para facilitar liquidação a um devedor do seu Banco, evitando ruinosa venda forçada. Nesse palacete, modestamente mobiliado, assim como nas residências anteriores, nunca se alteraram sensivelmente os hábitos de uma família burguesa, que tão rapidamente ascendia às culminâncias da fortuna social.
O contraste com os costumes e tendências da época é impressionante. Naquele tempo, quem era rico e, sobretudo, quem enriquecia, fazia alarde de sua prosperidade, instalando-se logo em moradia faustosa. O Palácio do Catete, o Palácio Itamaraty, o Colégio Militar, o Palácio Guanabara, foram suntuosas residências de particulares, que, só por motivo da qualidade do novo proprietário, resistem ainda à valorização parcelada dos terrenos e ao aproveitamento industrial para habitações coletivas, em que desapareceram o Palácio Bahia, o Palácio Abrantes, e muitos e sólidos sobrados de cantaria na rua do Lavradio, na dos Inválidos, nos bairros de São Cristóvão e Mata Cavalos, etc. Mauá instalou-se sempre tão modestamente quanto exigia o conforto de uma família abastada. Ou não lhe chegou nunca a vaidade de edificar palácio, ou não lhe sobrou tempo, que era escasso para as obras de interesse público que tinha sobre os ombros.
Não poderia deixar de impressionar-me essa exceção. Aquela tradição que chegava aos ouvidos, um homem que fora muito rico e empreendera obras grandiosas contrastava profundamente com tais traços na modéstia do viver. Subia a admiração com o considerar que ninguém crescera mais rapidamente e ninguém o excedera jamais no desprendimento dos chamados bens da fortuna, como ele desdenhosamente se referiu várias vezes ao dinheiro que não era empregado em produzir utilidades aos outros.
Pouco restava de sua veneranda memória nas reminiscências da geração de 1903, quatorze anos apenas depois de sua morte.
O que o salvava do esquecimento era o fragor de sua queda; falava-se ainda nela. Iam-se dispersando, entretanto, sem deixar vestígios, os documentos psicológicos dessa grande vida na