primores eram mandados de presente, embrulhados em papel caprichosamente recortado.
Andam as crianças nuas pela casa até aos cinco ou seis anos e por mais quatro a única indumentária doméstica é uma camisola ou timão. Reclusas e indolentes, as mulheres são para os pais e para os maridos como bonecas ou crianças malcriadas a que se fazem as vontades ou se adivinham os pensamentos, e as mais cheias de caprichos são, por isso mesmo, as mais mimadas. Daí resulta, diz Luccock, tornarem-se irritadiças e rabugentas, extravasando a bile nas pobres escravas.
Fora de casa, até que a chegada da corte de Lisboa veio modificar os costumes, dando um pouco mais de liberdade, só eram encontradas em caminho da missa, às 4 horas da madrugada, mas não vistas, pois as cortinas da cadeirinha, que as conduzia, estavam sempre cuidadosamente corridas. Dos modos femininos de 1809 dá Luccock este quadro pouco lisonjeiro: "Suas maneiras são a negação da graça e da elegância: grosseiras, arrebatadas, petulantes. Falam fluentemente, mas quase sempre em voz estrídula. O aspecto é um misto de sonso e requebrado, e elas não têm ideia de que seus ademanes possam despertar repugnância ou mesmo deixem de atrair simpática admiração. Como são raras as ocasiões de conversar com os homens, aproveitam com avidez as oportunidades que os bons fados proporcionam."
Mawe, visitando o Rio na mesma ocasião, diz, ao contrário, que "as senhoras são afáveis e corteses para os estrangeiros, muito preocupadas com o vestuário, mas menos altivas que as de outras nações; em suas reuniões reina a maior alegria,