as próprias crianças manifestavam seu espanto, algumas fugindo, outras contando-nos os dedos e exclamando que tínhamos tantos quanto elas. Como ocupávamos uma espaçosa sala, éramos frequentemente entretidos por chusmas de moças e rapazes que chegavam à porta para ver como comíamos e bebíamos".
Entre as pessoas mais cultas encontrou Mawe o mais vivo entusiasmo pelos filhos dessa nação que se apresentava como a aliada mais fiel de Portugal, e a cada momento ouvia, como um refrão: "Os Ingleses são grande gente".
E nesses oitenta anos que vão da chegada de D. João VI à partida de Pedro II encontramos de tudo entre os ingleses que escreveram sobre o Brasil: comerciantes, aventureiros, naturalistas, engenheiros, simples turistas. Alguns, como diz Afonso de Taunay, "indignos de sentar praça no batalhão de Epaminondas"; outros com a visão de nossas coisas já muito modificada ao refletir-se no espelho curvo do passado, imagens deformadas pela saudade ou pelo azedume. Aqui são narrativas onde se retrata a variedade e luxo de nossa natureza, quadro opulento onde a figura do homem, esquecido e desprezível, se dilui, apagada, em meio das cores vivas da paisagem; ali são notas minuciosas dos costumes e da gente num ambiente pobre e sem originalidade. Ora é a primeira pessoa, o I hierático e orgulhoso, como se o mundo fosse todo criado para servir a essa vogal, a contar os mínimos incidentes, alegres ou tristes, das caminhadas menos originais; ora, ao contrário, é a visão de conjunto, a narrativa impessoal, como a traduzir a impressão repartida por toda gente. Há os de renome universal, que