por isso, na diferença de temperamentos, no antagonismo dos estilos, a descrição fria de Koster e os períodos vibrantes de Euclydes da Cunha, com quase noventa anos de intervalo, diríamos que se repetem, tão idêntico aparece o que aí observaram.
Ninguém conseguira antes de Euclydes dar descrição tão perfeita desse ambiente, dessas paragens impressionadoras, ninguém melhor dissera o contraste da "luta pela vida, que nas florestas se traduz como uma tendência irreprimível para a luz, desatando-se os arbustos em cipós, elásticos, distensos, fugindo ao afogado das sombras e alteando-se presos mais aos raios de sol que aos troncos seculares", e aqui "de todo oposta, mais obscura, mais original, mais comovedora. O sol é o inimigo que é forçoso evitar, iludir ou combater. E evitando-o presente-se de algum modo, a inumação da flora moribunda, enterrando-se os caules pelo solo". Ninguém melhor pintara o panorama pardo do sertão queimado pela seca, onde apenas se destacam os joazeiros, "à maneira de oásis verdejantes e festivos".
E foi durante a seca que Koster viajou, a cavalo, de Recife a Fortaleza, passando pela Paraíba e por Natal. Mas voltou com as primeiras águas, espantado com a rapidez da vegetação, realmente assombrosa. "Chove à tarde", escreve ele; "ao amanhecer a terra tem um tom esverdeado; no segundo dia tem uma polegada de tamanho e no terceiro o capim já está bastante crescido para ser arrancado pelo gado semimorto de fome".
É a mutação de apoteose de que fala Euclydes da Cunha, quando "os mulungús rotundos, à borda das cacimbas cheias, estadeiam a púrpura das largas flores vermelhas, sem esperar pelas