o marido, ponderando tristemente: "Para que Senhor tem tantos negros e tão poucas negras!"
De noite ouvia-se na senzala o sapatear do samba, as danças lascivas, as embigadas, o batuque, ao som de rudes instrumentos. Canto e dança eram as paixões dos negros: o canto ajudava-os a trabalhar, lembrando-lhes a terra distante, abrasada de sol, acompanhava a dança.
"Quando os negros da mesma casta trabalham juntos", escreve Walsh, "movem-se ao som de certas palavras, cantadas em melancólica cadência, começadas em tom de tenor de um lado, e concluídas do outro em baixo. Longa fileira de negros, com fardos na cabeça, cantam na sua faina de carregadores, e eu ouvia todos os dias, quase em todas as ruas do Rio, o que me pareceu um canto nacional. Tinha imensa curiosidade em conhecer sua significação, mas ninguém me soube interpretar as palavras e os negros, quando interrogados, ou as desconheciam ou fingiam ignorar, como se fosse alguma coisa misteriosa, de que fizessem segredo."
Possuíam os negros certos instrumentos peculiares, alguns dos quais ainda hoje se ouvem pelas favelas e no carnaval. A eles particularmente se referem muitos dos viajantes ingleses, impressionados por sua originalidade.
O primeiro era um violino tosco e sui-generis, formado por um cabaço, ao qual se fixava haste de madeira, formando o braço e tendo esticada uma única corda de tripa, tocada com arco grosseiro, de crina de cavalo e, correndo o dedo pela barra, tirava o músico três ou quatro notas, muito