A política exterior do Império v. III - Da Regência à queda de Rosas

em prol dos interesses familiares soaria como imerecido insulto, tal o desmentido oposto por toda a sua vida pública, de serviços e de sacrifícios.

Mas a paixão partidária e a ferocidade das competições pelo poder não se detêm ante a injustiça; procuravam armas, de qualquer jaez, mesmo do mais baixo quilate, para derrubar aos que sobem.

E aos Andradas, irmãos unidos, sim, mas incapazes de exercerem o mando por interesse egoísta, e aos Cavalcantis, parentes, mas modelos de patriotismo e de desprendimento, lançavam o apodo cheio de subentendidos caluniadores de membros de um Ministério de família.

Não menos certo, entretanto, o profundo dissídio de sentimentos e de orientações entre todos eles. Os dous Cavalcantis não pensavam de modo análogo. Sua divergência com os santistas era real. Iam as afinidades dos chefes da Pernambuco para Aureliano, por um lado, o dos elementos constitutivos da futura Praia; e para Rodrigues Torres, e os Saquaremas por outro lado, o do partido de ordem, com Olinda por chefe.

Dessas dissenções íntimas, decorreu a quase esterilidade do gabinete maiorista.

Que liames, que solidariedade, que comunhão de vistas podiam existir entre Aureliano e os Andradas? Fora ele quem mandara prender e processar a José Bonifácio, e os irmãos santistas, sempre tão unidos e lembrados, não olvidariam os atos praticados contra qualquer um deles. Não deixou de apontá-lo Theophilo Ottoni em sua circular de 1860.

Os oito meses de vida do gabinete de 24 de julho traduzem apenas a luta e as desconfianças recíprocas dos ministros. Bem revela o intuito de atenuar a impressão de surpresa causada pela heterogeneidade política dos membros do governo, o discurso em que Antonio Carlos, ministro do Império, a 29 de julho, expunha o programa ministerial. Nada de característico; frases sem significação precisa; bons desejos próprios a todas as administrações.