Mauá

da ideia. É imperfeito o conhecimento que temos da imensa região que essa estrada de ferro tem de atravessar; o que se sabe, porém, chega e sobra para que o pensamento seja elevado à altura de uma aspiração nacional ...

"Com efeito será pouca coisa conquistar ao deserto dezenas de milhares de léguas quadradas, levar-lhe à população os meios de trabalhar, habilitar, enfim, os habitantes de tão remotas paragens a produzir e a consumir?

"Será pouca coisa arrancar as ricas produções que encerram as entranhas dessa região afastada e conduzi-las por um rápido trajeto de 50 horas a um porto de mar, convertendo em riqueza o que não tem hoje valor algum apreciável?

"Será pouca coisa converter a vasta baía de Paranaguá em novo empório de comércio, de indústria e de atividade nacional que rivalize com a capital do Império?

"Será pouca coisa ainda essa facilidade que a nova via de comunicação porá à nossa disposição para prover com segurança e a precisa celeridade os meios de ação que for preciso empregar em defesa dos interesses da honra e da dignidade nacional quando tal necessidade se der?

"Quem poderá assegurar que a fatal necessidade não aparecerá?

"Com a sexta parte do que se consumiu improdutivamente com a recente Guerra do Paraguai se teria construído a estrada de ferro e se teriam poupado somas enormes e milhares de vidas preciosas.

"Os interesses financeiros, econômicos e políticos do Império aconselham, pois, que se abra essa via de comunicação no menor espaço de tempo que for possível."

Era essa a linguagem num momento em que ruíra a sua fortuna, em que desaparecera o seu crédito comercial, e perduravam os efeitos das crises de 1864 e 1875 e o natural abalo e abatimento que deixou a Guerra do Paraguai.

Audaciosa sem dúvida, mas com certeza profunda e empolgante visão do futuro grandioso que se apresentava nítido ao sadio otimismo do velho sexagenário nas horas que lhe sobravam da mendicância de assinaturas para a moratória!