A política exterior do Império v. III - Da Regência à queda de Rosas

sinceros; escoimada das injustiças e dos aleives, acumulados pela paixão partidária e pelos naturais descontentamentos inseparáveis de toda autoridade que se exerce, quase sem contraste, por prazo excepcionalmente longo; domina hoje a figura do Soberano, cercada por um halo de Justiça, de bondade, de conhecimento dos homens e das cousas, de serviço a um ideal nobilíssimo para sua terra e sua gente.

Nem lhe míngua a majestade a inevitável contingência do erro humano. Antes vale a sombra, para realçar o brilho das virtudes e dos méritos; pois no próprio desacerto sempre se fundou em motivos dignos e de boa fé, errôneos embora.

Pode o Brasil ufanar-se desse filho. Representante lídimo de um passado definitivamente extinto, de conceitos políticos e governativos amortalhados respeitosamente no escrínio em que se guardam glórias que se foram para sempre, ainda hoje há grandes exemplos e lições mui altas a haurir do estudo imparcial daqueles cinquenta anos de impoluto reinado.

Triste criança, orfanada com menos de um ano pela morte da Imperatriz D. Leopoldina; pela partida do pai abdicatário, com pouco mais de cinco anos, ignorou as carícias de seus genitores. Por mais dedicados os carinhos de sua admirável mãe de criação, D. Marianna Carlota Verna de Magalhães Coutinho, futura condessa de Belmonte, sempre lhe faltaram, ao pobre menino, os insubstituíveis beijos maternos. Muitas vezes o relembraria ele próprio, sem embargo da grande veneração que sentia pela aia.

Imperante de cinco anos, teve de se criar e educar sob o peso esmagador das responsabilidades do seu governo futuro. Não teve infância nem mocidade. Era, sempre, o chefe de Estado.

Quem hoje relê as instruções que presidiram a seu crescimento, honesto e severo trabalho da inteligência de homens de bem, cônscios da gravidade da tarefa de formar