A política exterior do Império v. III - Da Regência à queda de Rosas

a tarefa, quanto, para se sobrepor às tiranias locais, pouco tementes à lei, devia ter o chefe de Estado prestígio próprio, energia e visão dos fenômenos, que o alçassem acima do nível mental e político dos governadores provinciais.

Complicavam a todas essas exigências, as inimizades, os rancores e as vinganças entre tais régulos, e, entre eles e os chefes militares: Estanisláu Lopez, contra Quiroga; Videla Castillo contra Corvalán, de Mendoza; La Madrid contra o pessoal da província de La Rioja, e assim por diante.

A história serena e imparcial desses tempos atribulados ainda está por ser escrita. Sarmiento, no seu admirável Facundo, a par da exata descrição do ambiente da época, deixou-se levar por seu espírito partidário, e fez de D. Juan Facundo Quiroga um monstro que, provavelmente, o chefe federal de Cuyo não era.

Como todos os demais, pouco respeitava a vida humana; mas, longe de representar exceção sanguinária em um meio brando, era apenas um dos inúmeros exemplares dos instrumentos de violência e de crueza de um período social, destituído de piedade. Nada fez, que os outros, de quem se não fala, Sarmiento à frente, não houvessem praticado. Representavam, todos, por igual, um estádio da evolução argentina.

Rozas, também, entrou nesse rol de grandes figuras mal apreciadas, pelo rancor partidário. Não se aponta o fato para desculpar os horrores que levaram a cabo; sim, para restituir as personalidades ao meio e ao tempo em que viveram, e para afirmar que eram, o que eram os demais. À saliência que lhes deram os acontecimentos, à duração maior de seu poder, se deve o maior clamor que os condenou, e que fez injustamente olvidar que obedeciam aos processos daquela fase histórica, e, pior ainda, escureceu os benefícios, grandes muitos deles, que lhes coube prestar.