A política exterior do Império v. III - Da Regência à queda de Rosas

O argumento era que esse traçado não abrangia o lago de Parima, como alegavam os brasileiros, e, portanto, inutilizava as pretensões do Brasil em que esse lago se mencionava. Ora tal divisa de van Heneman não tinha a menor publicidade, era secreta, como se fronteiras o pudessem ser. Não incluía o lago porque, na época em que se presume ter sido feito o decalque, o lago de Parima ainda não fora descoberto, e se identificava com o lago de Amacu, pelos exploradores espanhóis. Fora feito o trabalho sobre um mapa lindeiro com Espanha e não com Portugal; nele a penetração holandesa tanto fora levada para oeste, que, para voltar para este, tivera de invadir grande parte da bacia amazonense. Enfim, do mesmo van Heneman há mapa, público, este, e de certo valor, no qual a fronteira com os portugueses era a mesma linha de d'Anville.

Além desse decalque, citava como justificativa a carta de 1832, do capitão Alexander. Esta não dá fronteiras e menciona apenas que o forte de São Joaquim pode considerar-se o limite das possessões das duas coroas. Não significava isto, entretanto, que o forte fosse, por assim dizer, um marco assinalatório do linde, tanto que o mesmo capitão Alexander, no Journal of the Royal Geographical Society, de 1832, dando notícia sobre um livro de William Hilhoun relativo aos índios da Guiana inglesa, mostra claramente, pela enumeração das tribos, que a posse britânica parava no Rupununi.

Até 1840, portanto, data em que se divulgou a iniciativa de Schomburgk, que vamos narrar, era completa e perfeita a unanimidade dos pareceres, gráficos e documentais sobre as fronteiras anglo-brasileiras, e, do ponto de vista administrativo e político, igualmente unânime o reconhecimento de todos os países sobre a posse mansa e pacífica do Brasil na mesma região, não por presunção, mas por atos públicos e notórios de contínuo governo, por prazo já secular.