A publicação feita em 1917, pelo Arquivo Público Nacional, das Instruções redigidas pelo marquês, a 2 de dezembro de 1838, para guiar a educação imperial, vem desfazer a lenda da insuficiência do preparo de Itanhaém para enfrentar o problema. Não seria uma águia, mas possuía o sólido bom senso e o conhecimento psicológico preciso para solver a dificuldade. A suas Instruções é impossível negar a homenagem do aplauso.
Embora sem os citar nominalmente, a dous exemplos recentes devia fugir a formação do Imperador. Tanto mais difíceis de evitar, quanto eram os ascendentes imediatos do príncipe: D. João VI e D. Pedro I.
Para divergir do primeiro, devia-se ao imperial educando ensinar a iniciativa pessoal, e incutir o horror ao predomínio de ministros ou de válidos onipotentes. O exagero do influxo clerical, que tanto mal fizera a D. João, cumpria ser afastado das normas de agir do monarca. Precisava este isentar-se do medo incoercível que, por toda a existência do avô, lhe inutilizara o reinado, e o levara a usar de seus conhecidos ardis, arma dos apavorados, a mentira, a dissimulação, contemporizar, o descaso da verdade e da coerência. Imprescindível era saber dominar-se, ter calma, possuir espírito de decisão.
Para não cair nas falhas do segundo, era mister proscrever as intimidades da famulagem. Devia sempre ser o chefe, acatado e obedecido, superior a todos, mantendo o prestígio e a dignidade do cargo supremo, e não tolerando familiaridades que infringissem os privilégios imperiais, que recebera em depósito sagrado. Era ainda indispensável não dar livre curso aos excessos que tanto haviam prejudicado o prestígio paterno, por suas impetuosidades, brutalidades mesmo. Deveria pensar e refletir antes de agir, em contraposição aos repentes e às decisões prematuras de D. Pedro I. Não seria tolerável desprezar opiniões alheias, ligar pouco apreço aos pareceres divergentes do próprio, abandonar à la légère auxiliares que se