acima de todas as condições sociais". Era a negação do direito divino e do poder absoluto.
Do nosce te ipsum deduziriam os mestres as relações entre o homem e a natureza, de modo a que o Imperador "venha a sentir, sem o querer mesmo, aquela necessidade absoluta de ser um monarca bom, sábio e justo, fazendo-se garbo de ser o amigo fiel dos representantes da Nação e o companheiro de todas as influências e homens de bem do país...". Cumpria-lhes mostrar os males oriundos da tirania e da violência: a supremacia da religião e seu acordo com a política. Insistiriam na necessidade da tolerância e do mútuo perdão, ensinados pelo cristianismo perfeito. "Lembrem-se, pois, os mestres que o Imperador é homem", e, partindo sempre dessa ideia, dessem-lhe noções exatas e correspondentes à realidade, evitando-lhe palavras ocas e o feitio de mero pedante. O fim da educação "é saber por meio das curas", mas não fazer do homem um repositório de palavras, ou um dicionário ambulante.
Agir, em suma, "de maneira que o Imperador, sem abraçar nunca a nuvem por Juno, compreenda bem que o pão é pão e o queijo é queijo". "E não basta ensinar ao Imperador que o homem não deve ser soberbo, mas é preciso indicar-lhe cada uma ação, onde exista a soberba, pois se o não fizer assim, bem pode acontecer que o monarca venha para o futuro a praticar muitos atos de arrogância e altivez, supondo mesmo que tem obrado ações meritórias e dignas de louvor, e isto por não ter, em tempo, sabido conhecer a diferença entre a soberba e a humildade".
Do mesmo modo, ao explicar o mundo, levai-o a compreender "que o poder monárquico se limita ao estudo e observância das leis da natureza, e que, não obstante ser o monarca um representante da Divindade na terra, todavia é sempre homem e um homem tão sujeito, que nada pode contra as leis da natureza feitas por Deus em todos os corpos, e em todos os espíritos".