Não permitia, em seu governo, exercesse qualquer influxo consideração alheia ao interesse geral.
Fora do âmbito da administração e da política, mudava de personalidade, por assim dizer. Deleitavam-no as longas prosas com espíritos eminentes, aos quais tratava no pé da mais absoluta igualdade. Mantinha-se a par do movimento intelectual, quer literário, quer científico, da Europa e dos Estados-Unidos. Inúmeras vezes, causou assombro sua cultura, tanto quanto o consentia o conhecer assuntos, sem descambar na especialização estreita do cientista, encantoado no seu trecho de atividade indagadora. Em certos ramos, mesmo, quase poderia intitular-se profissional. Como não o compreendessem, e lhe não soubessem avaliar os estudos, preferiram, método mais simples, amesquinhá-los e negá-los, quando, mais sumariamente ainda, os não levavam para o ridículo. Que pilhéria!... um imperador sábio!...
Generoso, a ponto de viver sempre com suas finanças em desordem, por amor a concertar as alheias; dadivoso como ele só; inteiro e absoluto desapego de vantagens pessoais, ou de quaisquer exterioridades, etiquetas e vaidades, sem embargo do profundo respeito que tinha e que exigia pela dignidade de todos os cargos públicos, a começar pelo próprio, e pelas culminâncias de todo gênero; tais, algumas faces de seu aspecto na vida privada.
Que conclusão tirar? Pouco simpático ao Imperador, absolutamente insuspeito de parcialidade em seu favor, o eminente Capistrano de Abreu, ao estudar As fases do Segundo Império, reconheceu-lhe o direito a ser considerado um redresseur de torts. Admirável missão moral, forrada dos atos de sanção que lembra os dias mais brilhantes da cavalaria andante, em que a defesa da viúva e do órfão imortalizava o valor e o sentir religioso dos paladinos.