resistir à própria coroa, quando preciso fosse, e o foi em 1844. Observador arguto, dotado de ironia superior e de desdenhoso ceticismo, sabia medir os homens. Avaliava as situações políticas, com raro tino. Tinha essa forma especial de gênio, que é a paciência; sem irritações estéreis, esperava sua hora colaborando com outros, logo que visse a utilidade de tal esforço. Analisava, acumulava notas, inquiria dos caracteres, friamente, sem arroubos, preocupado com a exatidão das conclusões.
Com razão escreve Nabuco: "A união de Paraná com Vasconcellos fora uma convergência de forças rara em política, dessas que armam a direção de um partido de todas as qualidades precisas para a luta."
Conjunção de astros de primeira grandeza, esse elemento diretor da oposição a Feijó. O choque era fatal. Coligados na luta contra o absolutismo; companheiros de governo, mesmo, o padre e Bernardo, em 1831, com a mesma visão prática e enérgica dos deveres de momento; já se manifestara a divergência em 1832, quando Honório combatera e dera por terra com o golpe de 30 de julho, e em 1834, quando Honório e Vasconcellos compreenderam a necessidade de um rumo novo, de uma política do meio termo, conservadora e liberal a um tempo, fugindo a todos os extremos, enquanto o futuro regente, pouco evolutivo, permanecia com a mentalidade do ministro da Justiça esmagador da anarquia militar.
A campanha eleitoral, pela escolha da regência, alargara e aprofundara o fosso divisório entre esses homens. De um lado, no poder, l'homme à poigne, policiando o Brasil para conquistar e manter a paz. Do outro, na oposição, dous fundadores de regímen, com iguais dotes de energia, e com a clarividência política de estadistas a mais. Luta entre a força e a inteligência. Venceria irremissivelmente a última.
O primeiro cuidado de Feijó foi encerrar o Parlamento. Já estavam votadas as leis de meios. Empossado o regente a 12 de outubro, a 25 se fechava a sessão da Assembleia