dispende com mestres de latim e retórica, podia também fazer alguns sacrifícios para animar a cultura destas ciências, que conduzem a resultados mais úteis, e que o dirão os nossos conterrâneos do norte.
No plano que apresento tive em vista duas cousas essenciais nas nossas circunstâncias: 1º - conciliar os meios da maior instrução possível com a menor despesa. 2º - não desanimar a nossa mocidade, que quiser estudar nas boas universidades da parte mais civilizada da Europa, as quais têm de ser ainda por muito tempo as nossas mestras, se deixarmos de parte uma vaidade mal entendida em uma ciência, que não se assemelha ao direito, e cujos princípios são devidos a observação em teatros vastos, onde a emulação filha da concorrência tem outra força, que ainda não pode ter entre nós.
Quanto ao primeiro problema, que é o mais difícil, julgamos que o número de doze lentes é o menor possível, e que é de toda a impossibilidade, que eles possam desempenhar perfeitamente os seus deveres com o ordenado, que têm por ora. Em Paris, onde talvez com o mesmo dinheiro se tinham mais comodidades do que no Rio de Janeiro e Bahia, os lentes de medicina têm quinze mil francos anuais, e não são obrigados a tanto incômodo com os seus discípulos, que podem recorrer aos cursos particulares. Não duvidamos do que o exercício da medicina pode dar a alguns lentes meios suficientes para a sua subsistência, mas este exercício tira-lhes o tempo, que eles deviam empregar em desempenhar bem suas funções, tanto aos que são obrigados no ensino clínico nos hospitais, como dos outros, e outro tanto valeria dizer-se, que um professor de química deve ter pequeno ordenado porque pode vender produtos químicos.
Agora suscitaremos uma questão, que já em outro tempo foi ventilada, e vem a ser, se somente a nação deve carregar com a despesa necessária para as escolas; bem sei que a Constituição garante a instrução primária, nada é mais útil do que a difusão de luzes entre o povo, mas não sei porque razão eu hei de adquirir somente à custa dele uma profissão, em cujo exercício ele me compensará do meu trabalho; dir-se-a talvez, que exigirem-se v. g. 50$ a 100$ anuais dos estudantes, seria estabelecer um monopólio das ciências somente para os ricos, mas ignoro qual seja o país, onde os mais ricos não tenham certos monopólios; além disto o que custa dinheiro sendo mais precioso, os que se dedicassem a medicina talvez empregassem melhor o seu tempo, pagando aquela soma que não os havia de arruinar, mas seja como for, os que conhecem melhor as nossas finanças, e até que ponto chega a riqueza do Brasil, decidirão esta questão.
Número de lentes com as ciências que eles devem professar: 1º - física e química; 2º - botânica, noções gerais do zoologia e mineralogia; 3º - anatomia descritiva, regiões, e algumas noções de anatomia patológica; 4º - fisiologia e higiene; 5º - patologia externa; 6º
