A instrução e o Império - 1º vol.

Segundo ano - A anatomia é a principal base da arte de curar, e como ela é muito vasta, e difícil de saber-se, deve ter um só lente; a anatomia de regiões, ou topográfica, ou cirúrgica, ou de relações (sinônimos) não é mais do que uma maneira diferente de considerar a organização humana depois de se conhecer cada órgão, cada tecido em particular, devemos estudar especialmente as relações daqueles, por onde pode passar o instrumento cirúrgico; esta revista de anatomia assim considerada pode-se fazer em mês e meio, e o professor poderá terminar dando algumas noções das principais alterações orgânicas; mostrando v. g. em que consiste a degenerescência schirrosa, cerebriforme, tuberculosa, e os diferentes graus da inflamação, para que os estudantes saibam em que consistem estas alterações, quando ouvirem falar-se nelas, no princípio da clínica. Estas são as matérias do segundo ano, demais os estudantes assistirão ao curso de fisiologia, sem serem obrigados à lição, a fim de suportarem melhor a aridez da anatomia; um estudo monótono desgosta, fatiga o espírito, sobre tudo quando não se conhece o fim dele; os estudantes que ouvem lições de fisiologia ficam persuadidos, de que esta encantadora ciência é uma das que não se pode aprender sem a anatomia, e devem por isso redobrar o seu ardor no estudo desta ciêneia. Os estudantes são livres em seguir ou não desde já algum curso de clínica.

Terceiro ano - O lente de fisiologia sustentaremos que pode facilmente ensinar também higiene, empregando metade do ano em uma ciência, e outra metade na outra; elas tem uma relação imensa entre si; e segundo a ideia, que devemos fazer da segunda, ninguém a pode ensinar sem ser profundo na primeira. É pois a higiene uma ciência, que fundada no conhecimento das funções do organismo, e da influência dos seus agentes ou excitantes naturais, necessária para o livre exercício delas, determina os funestos efeitos do excesso ou falta, bem como os efeitos de certos agentes insólitos fortuitos para que dirijamos bem aqueles, e evitemos estes. Esta definição, que não queremos aqui justificar, é a que nos parece corresponder melhor a ideia luminosa de Moreau de la Sarte, de considerar a fisiologia como a base de preceitos higiênicos mais positivos, do que se encontram comumente, ideia, depois desenvolvida por Mr. Londe no seu tratado de higiene. Além disto a fisiologia, e a higiene sendo duas ciências que necessitam de poucas experiências, e que se podem mais facilmente aprender pelos livros, não são do número daquelas, em que se deve mais insistir nas escolas, onde se vai especialmente aprender aquilo, que os livros sós jamais poderiam ensinar. Neste ano os estudantes tornarão a seguir o curso de anatomia, e seria bom que as escolas determinassem, que eles dessem ou não lições, conforme o exame que tivessem feito antecedentemente;