A vida dos índios Guaicurus

Ademais, como os outros santos — salvo talvez Santo Antônio e São João — ele é certamente desconhecido dos Guaicurus e dos demais indígenas da zona, e sobretudo com o título de santo patrono dos caçadores. Mas os Guaicurus, como grandes caçadores, — diante do Pai Eterno — porém sem crença religiosa, sem nenhum pendor fetichista, não haviam podido, como de razão, constituir um patrono ou qualquer ídolo com o fim de favorecê-los nas suas expedições cinegéticas.

Eles não possuíam santo nenhum, nenhum ícone, nenhum objeto a quem render graças, a quem apresentar qualquer oferta de gratidão, enfim, a quem agradecer singelamente pelos bons e felizes êxitos conseguidos.

Eles aceitaram os resultados de uma caça, bons ou maus, comentando-os, segundo o seu espírito, apenas nas bases materiais, nas quais intervém independentemente de toda vontade humana, muitos fatos dos quais um número muito pequeno fica ao seu alcance e na sua dependência.

O azar, a sorte, os caprichos da natureza, a Providência, para os Guaicurus,- são uma coisa só, um tudo que não explicam, nem procuram compreender.

Não raciocinam sobre estes casos abstratos que são, para eles, às vezes favoráveis, às vezes contrários e prejudiciais.

Não se queixam se o resultado não foi feliz e não dirigem ações de graça à Sorte se esta interveio de modo favorável. A sua ignorância lhes confere, filosoficamente, uma alta dose de sabedoria, sem que o saibam.

Joãozinho, ao chegar ao matozinho que nos escondia a aldeia, atirou para o ar um cartucho. Era perfeitamente inútil.

Os cachorros nos haviam precedido e haviam anunciado a nossa chegada.