Contou-me então a sua história.
Como acima já dissemos, e aqui repisamos, os Guaicurus constituíram uma tribo eminentemente guerreira, briguenta, procurando constantemente guerrear e saquear as aldeias das outras tribos vizinhas ou mais próximas, sempre com o propósito de se entregarem ao roubo e à pilhagem.
Excelentes cavaleiros e bem providos de cavalos que eles mesmos criavam, se lançavam com frequência em expedições longínquas e muitas vezes internavam-se em territórios paraguaios, onde atacavam não somente os índios Guaranis, mas até as pequenas aglomerações constituídas por elementos puramente paraguaios.
A sua audácia ia mesmo ao ponto de atacarem as que se achavam protegidas por uma pequena força militar, pequena guarnição mandada pelo Governo paraguaio, com o fim de garantir a segurança dos habitantes daqueles "pueblos".
É assim que, bem antes da guerra paraguaia-brasileira de 1865 a 1870, que sustentou Solano Lopes, ditador e Presidente da República do Paraguai contra o Brasil, Argentina e Uruguai, a pequena povoação de San Salvador, na margem esquerda do rio Paraguai a algumas léguas, águas abaixo, da foz do rio Apa, provida de um piquetezinho de tropa e cuja população total podia contar em tudo uma centena de habitantes, foi repentinamente atacada e assaltada pelos índios Guaicurus.
Dos soldados e dos homens válidos da pequena povoação salvadorense, muitos foram mortos; os outros tiveram de fugir para evitar serem massacrados. A maior parte das mulheres e crianças fugiram também. Os Guaicurus, donos do campo de batalha e da praça, saquearam, pilharam e roubaram tudo quanto acharam.