A vida dos índios Guaicurus

onde ninguém lhe contestava a sua autoridade na matéria, nem seu talento e nem o seu gosto pessoal, o que no entanto não aumentava o seu orgulho.

A comunidade que os Guaicurus admitem em geral, e a promiscuidade em que vivem — talvez por causa dessa espécie de comunismo que os liga, por liames afetivos e também pelos laços de sangue, lhes dá uma tal compreensão da sociabilidade, que sua mentalidade se formou e se desenvolveu no mais largo sentido da liberdade individual e da assistência mútua. Esse sentimento a que chamaríamos "o amor ao próximo" os leva a ajudarem-se reciprocamente em todas as circunstâncias. Sem o pensamento de tirarem proveito algum para si próprio, pondo sempre de lado a ambição pessoal, e sobretudo todo sentimento de superioridade individual tendente a se prevalecer e a querer dominar e suplantar até os chefes reconhecidos.

Consideram-se todos iguais. Não admitem a superioridade de ninguém, a não ser a do cacique ou capitão, nos casos graves em que a tribo corre uns perigo qualquer, e também a do "padre" que é o médico da tribo e o "bruxo". Autoridades que carregam para todas as responsabilidades inerentes às suas funções; que todos reconhecem, e diante das quais todos se inclinam igualmente, com obediência passiva, nos casos de maior gravidade, que tocam o conjunto de todos os membros da tribo e os interesses gerais.

Nestas condições, e com uma mentalidade da qual o egoísmo — especial e peculiar ao homem nas sociedades civilizadas, é completamente banido, o mais perfeito entendimento reina na tribo.

Salvo se explode de repente uma paixão demasiada viva que vem por algum tempo perturbar a tranquilidade dos espíritos entre alguns dos membros — nestas ocasiões