de fabulações um meio de existência — salvo os padres ou bruxos da tribo, cujo numero excede raramente a unidade — seduzindo seus semelhantes com lindas frases ou bonitos discursos, para receber em troca alimentos que seriam o produto ou o resultado dos trabalhos dos outros; como se vê nas sociedades civilizadas, onde os mais espertos e os mais astutos vivem na fartura, na opulência, à custa dos outros, dos que trabalham e produzem.
O que deixaria supor que os que trabalham e produzem, isto é, a grande massa dos trabalhadores, tem a inteligência mais obtusa que a dos silvícolas.
Naturalmente não é isso. Existe outra coisa pior, que mantém aquela sorte de escravidão nos civilizados.
O índio conta com a Natureza para fornecer-lhe tudo quanto precisa e quase no momento desejado.
Porém "Dama Natura", se muito a miúdo o facilita bastante, também frequentemente se mostra recalcitante, ou simplesmente indiferente.
O índio bem o sabe mas não se queixa e não acusa ninguém.
Não há aproveitadores nem açambarcadores na tribo.
O bugre aguenta em silêncio, meditando apenas, novos projetos, a fim de prover-se do mais necessário, do mais imediato às suas necessidades.
As privações às vezes impõe-se e alongam-se, contudo muito raramente vários dias seguidos.
Sem religião, sem Deus, sem ídolos a quem expor as suas misérias; sem ter a quem pedir, a quem rogar, a quem suplicar, ele aceita o que lhe vem como sendo na ordem das coisas inevitáveis; devido à fatalidade!
Esta, nos índios, não tem nome, mas, no seu espírito ainda existe.