A vida dos índios Guaicurus

Eu fiz observar que não ficava bem tomar o alheio, tanto mais quanto a respeito de carne estávamos abastecidos, visto levarmos muito mais de uma arroba, que muito nos bastava.

- Mas, patrão, respondeu-me, aquele gado é orelho, é gado não dividido, portanto não marcado, é gado de ninguém, é gado bravio, é como bicho.

O raciocínio do Capitãozinho era lógico e justo, portanto, dei-lhe razão. No entanto, fiz observar, ao lhes dar autorização, que não deviam matar gado marcado, caso houvesse na manada algumas cabeças deste.

Assim com o meu assentimento que, com ares de autoridade, foi preciso dar-lhes rendendo-me às suas razões que eram muito justas, apeamos todos e ficamos escondidos com os nossos cavalos, detrás do pequeno capãozinho.

Dois deles destacaram-se de nós e foram-se, correndo com o corpo arqueado para se porem contra o vento.

A manada estava, como se disse, em campo limpo, porém, a 700 ou 800 metros de nós. Dez minutos mais tarde, os dois caçadores marchavam francamente na direção do gado bravio, com o vento bem na frente. Os fuzis que levavam os bugres, carregados com bala, podiam matar a vítima escolhida até 120 metros.

Todos os Guaicurus são muito bons atiradores, e quer seja um boi, quer seja uma vaca mesmo um touro, uns e outros, são alvos esplêndidos. Muito antes dos bugres terem chegado à distância conveniente, o gado começava já a manifestar certa inquietação. Alguns da manada estavam parados, de cabeça erguida parecendo farejar ou escutar. Os índios serpeavam sempre, como cobras, nas altas gramíneas que os escondiam inteiramente, deixando imperceptíveis as ondulações do imenso capinzal.