A vida dos índios Guaicurus

A impressão muito dolorosa que sentia a tirou do seu torpor.

Ela voltou a si.

As chagas vivas que cobriam seus pés e suas pernas faziam-na sofrer horrivelmente.

Ela mudou um pouco a sua posição. E, logo, de repente, concentrando todos os seus músculos num esforço nervoso, predominando o instinto da conservação, ergueu-se rapidamente.

A noite era escura, apesar do eco ser bastante claro. As estrelas cintilavam, nenhuma nuvem manchava a pureza da abóbada celeste.

Era uma daquelas belas noites sem luar.

Reagindo ainda mecanicamente, pôs-se a arrancar as longas ervas da macega.

De uma parte, fez uma cama bastante mole e quente, e, da outra, cobriu-se.

De novo adormeceu, sem dúvida pensando — agora que havia voltado à realidade — ao dever que se havia imposto.

E assim mesmo passou o resto da noite, num sono um pouco agitado, mas que a descansou contudo do mais grosso das suas fadigas.

E, pela manhã, foi um raio de sol que, carinhosamente, e esquentando os seus membros ainda doloridos, veio acordá-la.

Levantou-se. Movida por essa força de vontade que a dominava, sem nenhuma hesitação, prosseguindo o seu caminho apenas, como se tivesse parado apenas para retomar o fôlego.

Entrou no mato. Não achando nenhum vestígio da passagem de sua gente, saiu; e logo descobrindo novamente as pisadas, continuou a sua marcha.