Os cavalos todos não tinham mais peles nos boletos cuja epiderme do couro, em alguns, estava já em carne viva.
Era preciso poupá-los. Eles tinham pois grande interesse em poderem utilizar-se dos seus serviços o quanto mais possível.
Como o havia calculado Joãozinho, eles chegaram à vista do Morro do Niutaque bem antes da entrada do Sol.
Escolheram prudentemente o lugar do pouso e prepararam-se a passar a noite atrás de uma linha de arvoredos formada de pequenos boscarejos, que constituíam para eles como uma espécie de cortina, bordando à curta distância a parte brejosa da margem direita do rio e os ocultava da vista dos que na margem esquerda teriam querido espiar no campo da margem oposta, ou vigiá-la.
Joãozinho, deixando Jhivajhãá aos cuidados dos seus companheiros, foi-se sem demora, acompanhado por um deles.
Eles serpearam entre as ervas altas da macega que cobria o brejo e com precaução infiltraram-se até a beirada do rio.
Nesta hora, uma imensa sombra estendia-se em toda a parte brejosa. O sol muito baixo projetava ao longe as sombras perfiladas dos cimos matagosos do Morro.
Nenhum ruído se fazia ouvir, nenhuma viração no ar fazia vibrar as folhagens e os colmos secos das gramíneas.
A calmaria era completa. Era a hora morta do dia, em que a Natureza se prepara para entrar no seu repouso quotidiano.
De repente, um grito, um canto de perdiz- da martineta, perdiz do campo — veio romper o silêncio desta solidão, e fez-se ouvir.
Com intervalos de alguns segundos, dois outros gritos feriram os ares.